FICAR À MARGEM DO TREINO, A OBSERVAR E A SUPERVISIONAR
Ser treinador ou ser Manager?
Como treinadores, quando estamos no campo de treino o nosso foco está direccionado quase em exclusivo para a qualidade e eficiência dos exercícios que estamos a realizar. Olhamos para pormenores do exercício, procurando corrigir rapidamente os erros que vão emergindo.
Como Manager's, o nosso foco é um pouco diferente. Pretendemos olhar para cada jogador, saber qual o seu estado actual, compreendendo-o melhor, comparando a sua performance com performances anteriores, observar o seu estado de espírito.
Termos este foco traz-nos a grande vantagem de conseguir ter um conhecimento mais profundo de cada jogador, de cada individualidade. Dá-nos a vantagem de recolher informações sobre os nossos jogadores que de outra forma seria muito mais difícil conseguir. Dá-nos a vantagem de recolher informação para depois podermos interagir melhor com os nossos jogadores.

Fica aqui uma pequena reflexão de Sir. Alex Ferguson acerca deste tema:
"Pouco depois de ele ter chegado ao Aberdeen, Archie Knox chamou-me à parte e perguntou-me o motivo por que o contratara. A questão deixou-me perplexo, até que finalmente ele explicou que não tinha nada para fazer, pois eu fazia questão de tratar de tudo. Archie mostrou-se insistente e foi apoiado por Teddy Scott, faz-tudo do Aberdeen, que concordava com ele. Archie disse-me que não devia ser eu a orientar as sessões de treino, devendo, isso sim, ficar à margem, a observar e a supervisionar. Não tinha grande certeza de querer seguir esse conselho, pois julgava que isso poderia minar o meu controlo das sessões, mas, quando indiquei a Archie que pretendia meditar sobre o conselho dele, embora com alguma relutância, cedi ao pedido dele. Posso ter precisado de algum tempo para compreender que vemos muito mais quando não estamos no meio da acção, mas acabei por perceber que aquela foi a mais importante decisão que já tomara no que dizia respeito à maneira como treinava e geria. Quando nos afastamos, vemos coisas que nos surpreendem - e é importante que nos deixemos surpreender. Se estamos no meio de uma sessão de treino com um apito nos lábios, só nos concentramos na bola. Quando recuei e fiquei a observar à margem, o meu campo de visão alargou-se e pude absorver a sessão como um todo, ao mesmo tempo que identificava o estado de espírito dos jogadores, a sua energia e hábitos. Foi uma das mais valiosas lições da minha carreira, e fiquei muito satisfeito por a ter aprendido há mais de 30 anos. Foi a observação de Archie que fez de mim quem sou."
Não estando envolvido na aplicação dos exercícios dá-nos a vantagem de conseguirmos observar coisas que muito dificilmente conseguiríamos de observar se estivéssemos inseridos na aplicação dos exercícios.
Tirado do livro "Liderança de Alex Ferguson com Michael Moritz"