EXERCÍCIO 43 - COMO MELHORAR O PASSE E A POSSE DE BOLA EM SITUAÇÕES DE 2V1 E 3V1

EXERCÍCIO
18 jogadores disponíveis, incluindo o guarda-redes que também integrou estes exercícios.
Criamos 5 quadrados cada um com 4 por 4 metros.
Dois deles numa situação de 2 contra 1 a dois toques.
Nos restantes três situação de 3 contra 1 a 1 toque.
Em ambos bastaria ao jogador do meio tocar na bola para trocar.

FORMA, CONDICIONAMENTOS E GESTÃO DOS EXERCÍCIOS
Durante cerca de 30 minutos, fomos trocando os jogadores entre exercícios.
Primeiramente tivemos o cuidado de criar dois grupos de nível, um para alguns dos jogadores mais hábeis e um outro para os jogadores menos hábeis.
Durante as trocas, progressivamente fomos colocando um dos jogadores menos hábeis no contexto dos mais hábeis. Desta forma fomos obrigando-o a ter que elevar os seus níveis de desempenho e concentração.
Também optamos por ir colocando, por um período curto de tempo, um dos jogadores mais hábeis com o grupo de jogadores menos hábeis. Observou-se que quase de imediato este se tornou um líder do grupo, dando dicas e instruções aos colegas, orientando-os nas movimentações e tipo de comportamento a ter em determinada situação.
Tornou-se uma boa estratégia para desenvolver alguns aspectos de liderança.
Optamos por não deixar este jogador mais hábil durante muito tempo em contextos inferiores ao seu, poderia desmotivar rapidamente, perdendo-o emocionalmente para o restante do treino.
Outro aspecto que tivemos em consideração foi a intermitência dos jogadores entre o 2v1 e o 3v2.
No seu geral, os jogadores eram constantemente trocados entre os grupos. Não queríamos dar tempo para que os jogadores se fossem habituando aos colegas dentro do seu quadrado e à situação específica que estava a realizar.
Mudar de um 2 contra 1 a 2 toques para um 3 contra 1 a um toque vai exigir dos jogadores uma maior concentração e capacidade de adaptação rápida por parte dos jogadores. Achamos que desta forma evitamos a mecanização num determinado exercício, obrigando os jogadores a estarem sempre disponíveis para modificar de estímulo.

3 CONTRA 1
Este contexto obriga os jogadores a terem que dominar razoavelmente o jogo ao primeiro toque para que consigam ter algum sucesso.
Verdade que inicialmente, alguns jogadores demonstram que ainda não estão capacitados para executar este exercício. Mas a operacionalização deste exercício leva-os a um grande desenvolvimento num período de tempo reduzido, rapidamente começamos a ver melhorias. Basta ter um pouco de paciência e deixar os jogadores em prática por algum tempo.
Durante a execução deste exercício observamos que alguns jogadores ficam parados, não se movimentando para dar uma linha de passe. Quando isto acontece não só estão a dificultar a dinâmica do exercício como o seu próprio sucesso neste. Neste exercício ao primeiro toque a constante movimentação torna-se fundamental.
Aos poucos observamos que os jogadores vão começando a compreender melhor o espaço e como se movimentar deste dele. Começam a aproximar-se do portador da bola em apoio ou a abrir para receber sempre pressão. Mais uma vez, com o tempo de prática os jogadores vão apanhando isto por eles próprios.

Uma das maiores problemáticas na aprendizagem deste exercício gira à volta do posicionamento corpo de cada jogador. Observamos com imensa regularidade que os jogadores posicionam-se de frente para o portador da bola. Ao fazê-lo torna-se difícil colocar uma bola para a direita ou esquerda. Colocando os apoios em diagonal, abrindo o corpo para o lado que se pretende jogar irá facilitar em muito a circulação da bola. O jogador ao abrir o ângulo consegue ter duas opções de passe, ou devolve no apoio frontal ou roda o jogo para o outro lado.
Este é um aspecto mais técnico que a maioria dos jogadores não apanha sem ter um pouco de ajuda, ou podem apanhar, mas demoram muito mais tempo a fazê-lo. Aqui intervimos para que os jogadores aos poucos começassem a tomar consciência do posicionamento do seu corpo e de como ajustá-lo de forma a melhorar o seu rendimento.
Relativamente ao defesa ter de somente tocar na bola para trocar vai orientar os jogadores para um jogo mais rápido e seguro. Os jogadores começam a ter a noção que não basta fazer um passe, este tem que sair longe do adversário para não lhe tocar.

2 CONTRA 1
Este contexto, muito diferente do primeiro, obriga os jogadores a terem que dominar razoavelmente o espaço e a temporizar o jogo utilizando dois toques.
Neste exercício conseguimos observar elevados níveis de desenvolvimento em muito pouco tempo. Os jogadores em poucos minutos começam a entender quais as variáveis que devem utilizar de forma a melhorar o seu rendimento, mesmo sem feedback por parte dos treinadores. A não ser que os jogadores estejam muito habituados ao 'comando playstation' do treinador apresentando níveis baixos de autonomia.
Numa fase inicial alguns jogadores apresentam duas grandes dificuldades: só poderem dar dois toques; só terem um colega para com jogar.

Este contexto constrange-os (e em muito) no seu individualismo tendo estes que focar (quase em exclusivo) toda a sua atenção na movimentação do colega e posicionamento do adversário. Por vezes vamos observar os jogadores com a cabeça levantada, a observar onde está o colega, ao mesmo tempo que vão protegendo a bola do adversário. Quando vão executar o passe reparam que a bola já não está no seu poder, tendo saído de campo.
Inicialmente, o jogador sem bola tem a tendência para se posicionar perto do defesa. Isto diz-nos que ainda não consegue ainda jogar com o espaço de forma eficiente. Com este posicionamento consegue ser opção para o portador da bola. No caso de a conseguir receber irá fazê-lo com o adversário logo em cima.
Mas aos poucos começamos a observar este jogador a tentar fugir do defesa, criando espaço para receber sempre pressão ao mesmo tempo que vai sendo opção para o colega.

Com a criação de espaço por parte do jogador sem bola começamos a observar o aparecimento de outro tipo de comportamento mas desta vez do jogador com bola.
Consoante a pressão do adversário, o jogador começa a temporizar o seu jogo, utilizando um ou dois toques consoante a pressão deste.
Se o defesa pressionar de forma mais agressiva a tendência será para jogar ao primeiro toque indo ir buscar um pouco mais à frente. Se o adversário não pressionar a tendência do primeiro começa a ser para parar a bola.
Os jogadores começam a entender que com espaço não necessitam de jogar rápido, podem temporizar. Aproveitam para analisar melhor as suas opções dando mais tempo para que os colegas se possam movimentar de forma mais eficaz.

Uma outra dificuldade que observamos nas fases iniciais deste exercício gira à volta do passe. Normalmente este sai sempre em direcção ao colega, em vez de se colocar no espaço para a desmarcação deste.
Com o tempo começamos a notar que existe a preocupação para colocar no espaço ainda antes que o colega lá chegue.
A partir de um certo ponto o jogador com bola começa ter a tendência para passar para o espaço, em vez de para o colega. Consoante a pressão do adversário, a bola sai para o espaço vazio, o colega é que tem que analisar e lá ir buscar.

A comunicação entre os dois atacantes torna-se intuitiva, ambos começam a procurar jogar com a mesma variável, o espaço. A bola vai para o espaço vazio.
Consoante a movimentação do defesa vão-se abrindo espaços. Basta esperar que este se movimente e aproveitar os espaços que ele próprio cria. Aqui entramos num nível de desenvolvimento já muito grande.
João Miguel Parreira